sexta-feira, agosto 12, 2011

Criônica, quantos aniversários você deseja comemorar?

Dentro de alguns dias, começarei a postar matérias no blog. E essa é uma categoria mais complexa, já que as matérias, que aqui serão postadas, podem ser definidas como resultados de pesquisas, modéstia parte muito bem feitas.
E abaixo segue minha primeira matéria, postada em um blog hoje extinto. Não posso dizer que as futuras matérias seguiram a linha dessa primeira, mas de qualquer forma vale apena o post.



Egito Antigo. Perante o tribunal de Osíris, seu coração será pesado por Anúbis e você deverá declarar-se inocente de 42 pecados perante os 42 deuses juízes. Se for absolvido tens então o direito a vida eterna e se for declarado culpado morrerá pela segunda vez. A crença egípcia ia além, acreditava-se que para tanto o corpo da alma inocentada deveria se manter conservado pela eternidade, tal crença deu origem aos refinados métodos de conservação de cadáveres (mumificação) do Antigo Egito. As etapas para a mumificação iniciavam-se no Ibu onde o corpo era lavado em essências aromáticas e nas águas do Nilo. Introduzia-se então um gancho pela narina para retirar o cérebro, que era descartado. Em seguida por um corte lateral na altura do abdômen retirava-se os órgãos vitais que eram postos em quatro vasos, canopos, sendo que cada canopo era amparado por um distinto deus. Já o coração permanecia no corpo, este que pelos egípcios era tido como o órgão essencial. Agora o corpo passava por uma quarentena imerso em natro, um sal. As cavidades eram tampadas com linho embebido em resina. Então o corpo era enfeitado e passava-se resina para melhor protegê-lo. Por fim no local onde os cortes haviam sido feitos colocavam-se pratos, com o olho de Rá desenhado, como medida de proteção, o corpo era enrolado em tiras de linho, punha-se amuletos sagrados envolta do cadáver e então a máscara era encaixada na múmia. Após o processo o corpo era colocado no sarcófago com um hieróglifo onde ficava o nome do morto.
O que quis introduzir acima é o fato da busca pela imortalidade deis das primeiras civilizações, ser muito presente. Claro, a luta pela sobrevivência é um elemento comum entre todos os seres vivos e talvez seja o único (A bactéria GFAJ-1 foi capaz de substituir o Fósforo, tido como um dos elementos fundamentais para a vida, pelo Arsênio como foi recentemente anunciado pela NASA), logo uma espécie de intelecto mais avançado transcender essa razão básica, não é tão surpreendente.

Na incessante vontade humana de viver  nasce a medicina tal qual a conhecemos. Filha de Hipócrates (460-377 a.C.), que direcionou-a rumo à ciência. E durante a história diversas descobertas revolucionaram a medicina e consequentemente a humanidade, nas mãos de grandes homens como Louis Pasteur (1822-1895), que entre muitos feitos, o processo de pasteurização comprovando a ação de microrganismos na decomposição orgânica. Ela se aprimorou, de rústicas cirurgias à cardíaca e neurológica.
Hoje nos deliciamos com nossa "utópica" medicina em seus últimos inacreditáveis avanços. O mundo nunca antes se vira assim, do raio-x às telas da videoendoscopia. Nosso coração bateu mais forte com a circulação extracorpórea. Respiramos mais fundo, mesmo sem os pulmões, graças aos aparelhos de respiração artificial. Ganhamos uma segunda vida com transplantes de órgãos. Percebemos o que era quase imperceptível usando o método imunoenzigmático. Tornamo-nos mais saldáveis ao conhecer os antibióticos e prevenidos ao tomar as vacinas. E entre muitas outras coisas, até mesmo congelamos nossos filhos, que agora esperam pela hora da fecundação. Chegamos longe, muito longe, porém aquela infinita ambição (que muitos esqueceram) ainda esta distante, distante demais, mais do que o curto tempo de nossa vida pode alcançar. Quem dera tivéssemos uma maquina do tempo. Por sorte, somos criativos.

Durante o inverno nórdico, as baixas temperaturas são responsáveis pelas imigrações e hibernações. Já espécies de animais ectotérmicos podem evitar o congelamento ou sobreviver ao mesmo, graças a substancias crio-protetoras e supercongelamento. Para tanto são necessárias condições especiais: formação de gelo controlada, preservação da estrutura e função celular e viabilidade celular.
Embora o gelo seja um inimigo natural da vida, assim como o fogo, sendo corretamente manipulado pode proporcionar grandes benefícios.

Em 1964, é escrito o livro The Prospect of Immortality  por Robert C. W. Ettinger, livro que, ao promover o conceito da criogenia para um amplo publico, o daria o título de Pai da criônica. "Uma ambulância para o futuro", sintetiza bem a idéia apresentada. Ettinger também seria apontado como um dos pioneiros do transumanismo com seu livro Man into Superman. Outro destaque é Jerry Leaf (1941-1991) que trouxe, durante os anos de 1970 e 1980, pericia médica sem precedentes para o campo e introduziu tecnologias. Robert C. W. Ettinger e Jerry Leaf são os fundadores da criônica.
Criônica defini-se como: a prática especulativa de preservamento a baixas temperaturas com nitrogênio líquido (-196°C), afim de preservar os tecidos de uma pessoa, cuja vida não mais possa ser suportada pela medicina atual, durante o tempo que for necessário (décadas ou séculos) até que tecnologias futuras possam reverter os processo de suspensão e restaurar o paciente em perfeita saúde. Para tanto as estruturas celulares e químicas, críticas para a identidade, devem ser suficientemente conservadas.
Embora a criônica tenha uma "ampla cobertura" pela imprensa, a mesma comumente retrata-a como excentricidade, tolice ou coisas do gênero. Munida de idéias mal fundamentadas no intuito de preservar o status quo. Logo a maioria das pessoas tem uma visão distorcida da criônica.
Para compreender a base científica da criônica deve-se analisar a seguinte pergunta: quando alguém esta realmente morto? Ou melhor, quando alguém esta suficientemente morto, para cessarmos o suporte a vida?
A pergunta que pode parecer simples, na verdade revela-se complexa quando cuidadosamente analisada. "À cem anos atrás, uma paragem cardiorrespiratória era irreversível. Pessoas eram chamadas de mortas quando o seu coração parava de bater. Hoje em dia acredita-se que a morte só acontece 4 a 6 minutos depois de o coração parar porque após vários minutos é difícil de ressuscitar o cérebro. No entanto, com novos tratamentos experimentais, é possível sobreviver a mais de 10 minutos de paragem cardiorrespiratória quente sem lesões cerebrais. Tecnologias futuras para reparos moleculares podem estender a fronteira da ressuscitação até 60 minutos ou mais, tornando as crenças de hoje sobre quando a morte ocorre obsoletas." Alcor Life Extension Foundation. Logo conclui-se que a morte ocorre quando a química da vida entra em tamanha desordem que uma operação normal não pode repará-laEntende-se que em um certo ponto a identidade do individuo perde-se, a partir desse ponto não a reparo.

Entre a vida e a morte. Se por um lado é inaceitável submeter pacientes vivos a baixas temperaturas para sua crioconservação, por outro lado é inútil vitrificar cadáveres. Assim, idealmente, os procedimentos devem ter início acuando a paragem cardiorrespiratória.
A base científica. A Alcor alega três fatores como justificativa a prática da criônica:
. A vida pode ser parada e reiniciada se a sua estrutura básica for preservada. A exemplo de embriões humanos. E ainda existem muitas outras situações. Em casos de cirurgia de aorta seres humanos foram submetidos a paradas cardíacas em hipotermia profunda sem maiores danos ou déficit neurológico. Indivíduos alcançaram silêncio electrocerebral completo (índice zero em um parâmetro multifatorial bispectral, derivado do eletroencefalograma) entre as temperaturas de 16°C e 24°C, sendo posteriormente recuperada a temperatura normal, não ouve déficit neurológico, comprovando assim que a dinâmica da atividade cerebral pode ser parada e reiniciada, sem perda da identidade pessoal.
. Vitrificação (não o arrefecimento) pode preservar a estrutura biológica. Com a adição de substancias crio-protetoras nas células é possível o arrefecimento do tecido a baixíssimas temperaturas com pouca ou nenhuma formação de gelo. O estado de resfriamento a temperaturas inferiores a -120°C sem formação de gelo denomina-se vitrificação. Desde 2007 as duas maiores organizações do ramo (Alcor Life Extension Foundation e Cryonics Institute) relatam terem sido capazes de eliminar a formação de gelo no cérebro utilizando a vitrificação, mas não em outros órgãos ou tecidos.
Métodos de reparação a nível molecular podem ser agora previstos. "A ciência emergente da nanotecnologia irá eventualmente levar até máquinas capazes de reparar e regenerar extensivamente o tecido, inclusive reparar células individuais uma molécula de cada vez. Esta nanomedicina futura pode teoricamente recuperar qualquer pessoa preservada desde que a estrutura cerebral básica que codifique a memória e a personalidade se mantenham intactas." Alcor Life Extension Foundation.

Aqui temos uma possível solução para um problema fundamental, mas infelizmente essa própria solução esbarra com o sistema ao qual giram nossas vidas, o monetário. Em tempos de reinvenção da própria existência, pergunto-me se não será a hora de revermos nossas relações uns com os outros e com o mundo? 
Na busca pela "abolição da morte" creio que haverão inúmeros obstáculos, porém afirmo que menos do que o melhor é inaceitável. Por tanto, hoje é tempo de reconstruirmos a sociedade por um todo, usando o melhor de nossas tecnologias, o melhor de nós mesmos. E assim como o fim do feudalismo, renascimento e o iluminismo tiveram seu brio, no passado, hoje tais revoluções marcarão a humanidade. Não! Todos nós sabemos (embora nem todos admitam) que estamos próximos de algo sem precedentes! 

Concluindo-me. Pretendo comemorar todos os meus aniversários. E aniversários nunca são o bastante.

Para mais informações, a respeito das tecnologias que pretendem mudar o mundo, acompanhe: Inovação Tecnológica e Fabuloso Futuro. Assista também ao documentário Transcendent Man e ao TED Eu sou meu conectoma de Sebastian Seung.

Ufa! Terminou. 

3 comentários:

  1. Acho uma pesquisa extremamente intelegente e curiosa;porem, de que me adiantaria crionificar o meu corpo se durante todo esse tempo não estarei vivenciando nada? Se fizesse isso por uns 50 anos e descubrissem a cura de minha doença,voltasse ao estado normal e fosse curada.
    Se tivesse marido, ele já teria casado de novo,já teria netos, bisentos meus pais teriam morrido..o mundo teria evoluido e eu nao, se fosse um ótimo profissional, não seria mais nada. Iria viver oq? Criar uma nova vida?

    prefiro viver o meu tempo..ir tratando a doença e viver o quanto for possivel

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  2. Uau! Bela matéria! Parabéns!!

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  3. Sobre o porque viver mais, já seria assunto para um futuro post. Importante por sinal

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